terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Sobre luzes, espelhos e defeitos (ou, "quem será que está errado mesmo?")


"...Depois, numa hora de quietude, um estranho pensamento me ocorreu feito um raio. De repente me entrara na cabeça outra explicação. Suponhamos que ouvíssemos muita gente fazendo menções a um desconhecido. Suponhamos que ficássemos intrigados por ouvir alguns dizendo que ele era alto demais; outros, baixo demais. Alguns faziam objeções à sua obesidade; outros, lamentavam sua magreza. Alguns o achavam escuro demais; outros, louro demais.


Uma explicação (como já se admitiu) seria que ele fosse uma figura estranha. Mas há outra explicação. Ele poderia ser a figura certa. Homens exageradamente altos poderiam achá-lo baixo. Homens demasiado baixos poderiam achá-lo alto. Velhos machões a caminho da corpulência poderiam considerá-lo fisicamente mal fornido; velhos janotas a caminha da fraqueza poderiam sentir que ele se encorpara excedendo as linhas minuciosas da elegância. Talvez os suecos (que têm o cabelo amarelo como uma espiga de milho) o chamassem de pardo, ao passo que os negros o consideravam distintamente louro.

Talvez, em suma, essa coisa extraordinária seja realmente a coisa ordinária; pelo menos a coisa normal, o centro. Talvez, no fim das contas, o cristianismo fosse sadio e todos os seus críticos fossem loucos - de maneiras variadas.

Eu testei essa idéia perguntando-me se havia nalgum dos acusadores algo mórbido que pudesse explicar a acusação. Fiquei chocado ao descobrir que essa chave se encaixava na fechadura. Por exemplo, era certamente estranho que o mundo moderno acusasse o cristianismo simultaneamente de austeridade física e de pompa artística. Mas era também estranho, muito estranho, que o próprio mundo moderno combinasse um luxo físico extremo com uma extrema ausência de pompa artística.

(...)

Examinei todos os casos e vi que a chave se encaixava. O fato de Swinburne ter-se irritado com a infelicidade dos cristãos e depois mais ainda com a felicidade deles era fácil de explicar. Já não se tratava de uma complicação de enfermidades do cristianismo, mas de uma complicação de enfermidades de Swinburne. As limitações dos cristãos o aborreciam simplesmente porque ele era mais hedonista do que alguém sadio deveria ser. A fé cristã o aborrecia porque ele era mais pessimista do que alguém sadio deveria ser. Da mesma maneira os malthusianos atacavam por instinto o cristianismo, não porque haja nele algo de antimalthusiano, mas porque há algo de anti-humano no malthusianismo."


Para refletir:

João 3: 16-21
"Pois assim amou Deus ao mundo, que deu seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele.

Quem nele crê, não é julgado; o que não crê, já está julgado, porque não crê no nome do Filho unigênito de Deus. O juízo é este, que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; pois eram más as suas obras. Porquanto todo aquele que pratica o mal, aborrece a luz, e não vem para a luz, a fim de que as suas obras não sejam argüidas; mas aquele que faz o bem, chega-se para a luz, a fim de que sejam manifestas as suas obras, que têm sido feitas em Deus."

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Algernon Charles Swinburne | 05/04/1837 - 10/04/1909 :

Foi um poeta inglês do período Vitoriano. Sua poesia foi muito controversa para o seu tempo, tendo temas reocorrentes de sado-masoquismo, desejo de morte, lesbianismo, e uma postura anti religiosa.

Considerado um "poeta decadente", diz-se que ele falava mais do que fazia, como atesta Oscar Wilde, que disse que Swinburne era "um amostrado em termos de vícios, que fez tudo que podia para convencer os outros de sua homossexualidade e bestialidade sem ser nem um pouco homossexual ou bestial".

Thomas Robert Malthus | 13/02/1766 - 23/12/1834 :

Economista político inglês, famoso por suas pessimistas teorias de crescimento populacional.

Encontrou alguns de seus mais fortes críticos no movimento Marxista. Engels dizia que o pensamento malthusiano era "a mais crua e bárbara teoria já criada, um sistema de desespero que ataca todas as belas frases sobre o amor ao próximo e a cidadania mundial".

Lenin também o criticou, afirmando que se tratava de "uma doutrina reacionária" e "uma tentativa por parte dos ideologistas burgueses de exonerar o capitalismo e provar a inevitabilidade da pobreza e miséria da classe operária em qualquer sistema econômico".

Gilbert Keith Chesterton | 29/05/1874 - 14/06/1936 :

Foi um influente escritor inglês do começo do século 20. Suas obras diversas abrangem o jornalismo, filosofia, poesia, biografias, apologética Cristã, fantasy e histórias de detetive.

Sua obra, de grande impacto, colaborou para a conversão de C.S. Lewis ao Cristianismo, e influenciou escritores diversos como Ernest Hemingway, Graham Greene, Harold Bloom, Frederick Buechner, Evelyn Waugh, Jorge Luis Borges, Gabriel García Márquez, Karel Čapek, David Dark, Paul Claudel, Dorothy L. Sayers, Agatha Christie, Andrew Greeley, Sigrid Undset, Ronald Knox, Kingsley Amis, W. H. Auden, Anthony Burgess, E. F. Schumacher, Orson Welles, Dorothy Day, Gene Wolfe, Tim Powers, Garry Wills, David D. Friedman, Neil Gaiman e Franz Kafka.

O renomado autor cristão Philip Yancey, afirmou que se pudesse ter apenas um livro além da Bíblia, poderia muito bem ser Ortodoxia, de G. K. Chesterton.

O livro "Good Omens" dos populares escritores de fantasia Neil Gaiman (Sandman) e Terry Pratchett (Discworld) é "dedicado à memória de G. K. Chesterton: Um homem que sabia das coisas".

Um comentário:

Minas Jornalistas disse...

Uia!!! Que legal, colega! :D
Me dá esse livro de presente? hihi
bjooo