Esta é uma coisa que descobri ser verdade: você não começa a processar a morte antes dos 30 anos de idade. Vivo por intermédio de visões, e elas se projetam uns 50 anos, e agora, apenas no ano passado, por exemplo, percebi que minhas visões estavam se projetando longe demais, estavam bem além de minha expectativa de vida. Fiquei assustado de pensar nisso, que eu tinha deixado de casar mais cedo ou ter filhos para escrever esses livros bobos, que tinha aceitado a mentira de que a vida acadêmica precisa ser separada da experiência relacional, como se Deus só quisesse que aprendêssemos idéias cognitvas, como se o coração do homem tivesse sido criado apenas para acelerar com filmes. Não, a vida não pode ser entendida em duas dimensões, como numa página. Ela precisa ser vivida; toda pessoa precisa sair de sua cabeça, precisa se apaixonar, precisa decorar poemas, precisa saltar de pontes para rios, precisa ficar de pé em um deserto e sussurar sonetos sob sua brisa:
I'll tell you how the sun rose
A ribbon at a time (...)
[Eu digo a vocês como o sol se ergueu
Uma faixa de cada vez (...)]
É um livro vivo, a vida; ela se desdobra em um milhão de cenários, tem um bilhão de belos personagens, e está quase acabando pra você. Não importa qual a sua idade; ela está chegando ao fim rapidamente; logo subirão os créditos e todos os seus amigos sairão do seu funeral, voltarão para suas casas frios, paralisados e em silêncio. Eles acenderão a lareira, tomarão um vinho e pensarão em quem você foi... e sentirão uma espécie de mal-estar com a idéia de que você não será mais.
Então você logo estará naquele ponto do livro em que tem a maior parte das páginas na mão esquerda e só um pedacinho da história na mão direita. Você saberá, pelo número das páginas, não pela narrativa, que o Autor está amarrando as coisas. Você começará a lamentar pelo fim e a querer diminuir o seu ritmo até o encerramento, sabendo que as últimas linhas falarão de algo belo, do fim de algo longo e conquistado, e você esperará que a conclusão seja como os últimos suspiros, como sussurros sobre o quanto e quem os personagens amaram, e quão verdadeiros foram os sentimentos quando eles tiverem chegado à marca de uma centena de páginas.
Assim, oro para que sua história tenha envolvido algumas partidas e alguns retornos, alguns verões e alguns invernos, algumas rosas se abrindo como crianças brincando. Minha esperança é que sua história seja sobre mudança, sobre algo belo nascendo dentro de você, sobre aprender a amar um filho, sobre se mover ao redor de água, ao redor de montanhas, ao redor de amigos, sobre aprender a amar os outros mais que a nós mesmos, sobre entender a individualidade como uma forma de compreender Deus.
Nós temos uma história, você e eu, e só uma.Donald Miller - Fé em Deus e pé na tábua
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Fé em Deus e pé na tábua (Parte 2)
Continuação de: Fé em Deus e pé na tábua (Parte 1)
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