sábado, 14 de janeiro de 2012

Questionamentos Inconvenientes

Gostaria de deixar claro de antemão que o que será exposto a seguir são questionamentos pessoais, logo, possivelmente mais perguntas do que respostas, e perguntas para as quais já tomei diferentes posições e em que sigo procurando respostas...

Na vida Cristã aprendemos que Deus é santo, e que nós também somos santos. Santos no sentido em que fomos chamados, "separados", para sermos semelhantes àquele que nos chamou, Jesus Cristo. Paulo nos chama a sermos seus imitadores assim como ele é de Cristo, e a Palavra também afirma que fomos predestinados a ter a nossa imagem "conformada" à imagem de Cristo, o qual serio o primogênito de um grupo de irmãos dos quais fazemos parte, afinal "Cristão" significa "pequeno cristo".

"Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos."
(Romanos 8:29)

Viver em santidade é refletir a imagem de Cristo. Eu, assim como todo Cristão, sou chamado a ser santo, mas tenho séria dificuldade em viver a santidade.

Muito se fala (erroneamente ao meu ver) de que a Bíblia é dividida em um "tempo da lei" e "tempo da graça", normalmente com demonstrações de contentamento por vivermos no "tempo da graça", com um pensamento de que estamos sujeitos a fardos mais leves.

De fato, podemos ter nossos "pesos" aliviados pela ação e capacitação do Espírito Santo, mas me pergunto se é realmente isso que a maior parte das pessoas pensa quando fazem afirmações como a acima, ou se elas (e eu) não pensam apenas que Deus está mais tolerante para com os nossas falhas.

O que seria um erro.

O sermão do monte deixa claro que o Jesus da graça tem padrões tão elevados quanto o YHVH da Lei, afinal, Jesus/Deus é o mesmo ontem, hoje e para sempre (Hb 13:8).

E o problema é que na maior parte do tempo, creio que eu (e muitos outros) não tenho o mesmo padrão que Deus, ainda que eu tenha aceitado um chamado exatamente para isso.

Como tenho lido no livro "A Batalha de Todo Homem" (Stephen Arterburn e Fred Stoeker - Editora Mundo Cristão), optamos muitas vezes por padrões "misturados". Optamos por excelência ao invés de perfeição. Perfeição é divina, excelência é humana, não é estranho que optemos pela excelência.

Do ponto de vista humano, a excelência já é um nobre alvo.

O problema é que do ponto de vista do eterno e divino, a excelência humana não passa de mediocridade.

Mediocridade e complacência andam de mãos dadas, é aquela velha coisa do "não é o melhor possível, mas é melhor do que os outros, então está bom".

Como Cristãos, muitas vezes esquecemos a "boa religião" ensinada em Thiago, e vivemos a "religiosidade" que tanto dizemos combater, nos enchendo de orgulho por "sermos melhores que os do mundo".

Eu não adultero, então está bom.
Eu não roubo, então está bom.
Eu não mato, então está bom.

Sim, muitos de nós evitamos tais atitudes e nos sentimentos corretos com isso, sendo inclusive muitas vezes reconhecidos e louvados por outros por termos tais posições.

Mas não importa o que eu penso ou o que os outros pensam, mas sim o que Deus pensa não é?

Paulo afirmava: "Acaso busco eu agora a aprovação dos homens ou a de Deus? Ou estou tentando agradar a homens? Se eu ainda estivesse procurando agradar a homens, não seria servo de Cristo." (Gálatas 1:10)

Será que REALMENTE podemos dizer o mesmo se aceitamos a excelência humana ao invés da perfeição?

Tomando como exemplo as alegações acima...

Um homem pode não trair sua esposa mas ter fantasias com pornografia ou simplesmente com lembranças passadas ou sua própria imaginação. Se sua mulher não tiver conhecimento de seus pensamentos (ou às vezes até tendo) ela simplesmente ficará feliz por ter um marido fiel. Mas e Deus? Jesus nos diz que um olhar ou pensamento é suficiente para que sejamos considerados adúlteras.

A excelência diz que o não praticar o ato de adultério é louvável, Deus diz que não devemos apenas fugir da exteriorização, mas que aquilo não deve nem sequer ter se materializado em pensamento.

"Vocês ouviram o que foi dito: ‘Não adulterarás’.
Mas eu lhes digo: qualquer que olhar para uma mulher para desejá-la, já cometeu adultério com ela no seu coração." (Mateus 5:27-28)

Um homem pode nunca ter furtado um pão da padaria sequer, mas pode ter sonegado impostos e ter um computador cheio de arquivos piratas. A maior parte das pessoas considerará esse homem um homem normal, honesto. Deus todavia, há de descordar.

"Por causa do Senhor, sujeitem-se a toda autoridade constituída entre os homens [...]" (1 Pedro 2:13)

Assassinar alguém então nem se fala. A maioria de nós não somente não pratica tal ato como o repudia abertamente, inclusive independente de crença. E aí eu tenho uma grande dúvida que me confronta fortemente... Se eu não mato ninguém, mas me divirto em filmes cujo grande atrativo é a violência, como o recente "Imortais" ou a série "Jogos Mortais", o que isso diz sobre meu coração? E se meu lazer se constitui de jogos como "Mortal Kombat" e seus infames "fatalitys" ou a série "God of War" em que arrancar a cabeça de alguém e usar como item substitui o mero achar um item em um baú qualquer de jogos como Zelda?

O que me leva a ter prazer em tais coisas? E, de fato, matar alguém não é a mesma coisa que jogar God of War, mas para o Deus que se importa com meu coração, quão grande (ou pequena) é essa diferença?

O que eu sei enquanto Cristão é que meu espírito e minha carne vivem em constante batalha, e que toda vez que minha carne está vencendo contra o meu espírito, ainda que eu não saiba em quê, sinto o meu espírito se entristecer, sinto o Espírito Santo se entristecer, e logo fico abatido, apático, como que morto.

Orar fica difícil, há uma vergonha, como a de Adão, uma vontade de se esconder e nada falar ou me justificar e apontar dedos. Louvar, o mesmo. E logo essa vergonha vira uma apatia que contamina tudo, e de abismo em abismo, às vezes vem até vontade de morrer.

Eu não quero morrer.

E nem quero uma meia vida, não quero ser um zumbi, vampiro, ou o que quer que seja.

Quero a tal da vida em abundância. E o MEU pecado, é o MEU maior inimigo. Não adianta responsabilizar a sociedade, o "capeta", o próprio Deus, ou qualquer outra coisa. No fim das contas, as ações são minhas, e eu serei sempre o primeiro a sofrer as consequências delas.

Me pergunto em que pontos eu sou totalmente medíocre, humanamente excelente, ou pela graça de Deus, divinamente perfeito...

O quê ainda pode mudar? Como melhorar? Que galhos cortar?

Sim, melhorar sempre envolve cortar.

"Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor.
Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta; e todo que dá fruto ele poda, para que dê mais fruto ainda." (João 15:1-2)

Fugindo do óbvio e grandioso para o que parece pequeno e fútil...

Será que eu não preciso sim me esforçar mais para conter meus olhos e pensamentos com relação às mulheres? Será que às vezes não seria melhor ficar em casa do que ir à praia? Será que eu não deveria até mesmo evitar a companhia de algumas "irmãs" ?

Será que eu não deveria assistir menos a filmes que contenham cenas de nudez, violência e outras "agressões"? E não somente um "Jogos Mortais" mas até mesmo "Forrest Gump"?

Será que eu não tenho que ser mais contente e lutar com minha cobiça, aceitando que nem tudo eu posso ter? Será que eu não deveria poupar para comprar um windows original ou aprender a usar linux? E porquê eu faço questão de usar o Photoshop se não sou um profissional da fotografia? E se eu sou um profissional, porquê não pago pelo trabalho daqueles que me ajudam a ganhar dinheiro e fazer o meu trabalho?

Eu preciso quebrar as minhas finanças ou dos meus pais para usar roupa da Hollister, Abercrombie ou Aeropostale? Ou eu preciso tanto assim me enquadrar na "moda" que preciso usar "roupas piratas" para não gastar?

O quê eu preciso? O quê é importante? O quê é sacrificável? O quê é vaidade?

Se eu digo que Deus é tudo que preciso, mas invisto muito mais tempo em fazer as coisas que o desagradam, ou nem sequer procuro saber o que o desagrada (afinal, na ignorância eu tenho uma justificativa - será mesmo?), não estou vivendo uma incoerência, e pior, vivendo em pecado?

Todos somos tentados, o que muda é o que fazemos com essas tentações. Passarinho sempre vem, mas não devemos deixar que faça ninho.

Todos pecamos, mas a questão é nossa postura diante disso.

A boca fala do que está cheio o coração. Os olhos buscam aquilo que os agrada. O que as coisas que colocamos diante dos nossos olhos e nas quais investimos tempo dizem sobre nós? Sobre o que amamos falar? Para nós, o que é mais importante compartilhar?

Eu já dediquei meu tempo à nobre causa de divulgar a honorável "cultura japonesa". Revistas em quadrinhos e desenhos animados. Quão nobre.

É sério que seu principal assunto com seus amigos são videogames? Jogos? Futebol? Novela? Cinema?

São esses os tesouros das nossas vidas? É isso que queremos compartilhar e deixar?
Seu quarto é um templo à Deus ou à uma banda? Um templo ao cinema?

Sequer há comparação?

E talvez até digamos que Deus é mais importante, mas o que as paredes de nossos quartos, os arquivos de nossos computadores, nossas conversas com nossos amigos e cônjuges e a divisão do nosso tempo nos diz?

Pecar cansa. Eu não quero morrer. Eu não quero fingir que não vejo e não sei. Eu não sou ignorante.

Eu quero viver.

Eu não tenho as respostas para todas as perguntas, eu não sei o limite do aceitável em todas essas coisas. Eu não sei até que ponto é santidade, imaginação ou loucura.

Mas eu certamente não quero fingir que não há nada errado. Eu quero ser podado.

Eu quero realmente ter Deus acima de tudo, e toda a VIDA que vem com isso.

E se nós realmente desejamos isso, então fica ridícula qualquer comparação, e realmente podemos dizer que temos TUDO como perda, diante de Deus.

Eu posso sim abrir mão de cinema, jogos, lazer ou o que quer que seja por Deus. E você também pode.

Mas não façamos sacrifícios desnecessários, por orgulho, falsa piedade, hipocrisia, ou "religiosidade", mas busquemos verdade e sabedoria. Como disse o próprio Jesus, a quem devemos ter como padrão e sermos seus imitadores...

"Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, pois eles não são do mundo, como eu também não sou.
NÃO ROGO QUE OS TIRES DO MUNDO, mas que os protejas do Maligno.
Eles não são do mundo, como eu também não sou.
Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade.
Assim como me enviaste ao mundo, eu os enviei ao mundo.
Em favor deles eu me santifico, para que também eles sejam santificados pela verdade." (João 17:14-19)

Que possamos conhecer a verdade, e vivê-la, agradando não a homens (nós mesmos inclusive), mas à Deus, sabendo que isto é tudo que precisamos, e que isto sim é digno de ser compartilhado e gera vida.

Nem sempre teremos todas as respostas, mas que possamos buscar o entendimento da verdade, fazendo as perguntas difíceis e inconvenientes, para que não sejamos apenas chamados a ser santos, mas que a santidade seja algo real em nossas vidas.

És tudo que eu preciso Senhor, me lembra disso dia após dia, e opera em mim o amar a Tua Palavra e o vivê-la. Que eu consiga imitar Paulo, que eu consiga Te imitar.

Me sustenta com a tua misericórdia, e me corrige como um Pai que corrige o filho a quem ama.

"[...] Se, porém, alguém pecar, temos um intercessor junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo. Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos pecados de todo o mundo. (1 João 2:1-2)

(Salmo 51:1-17)

"Tem misericórdia de mim, ó Deus, por teu amor; por tua grande compaixão apaga as minhas transgressões.
Lava-me de toda a minha culpa e purifica-me do meu pecado.
Pois eu mesmo reconheço as minhas transgressões, e o meu pecado sempre me persegue.
Contra ti, só contra ti, pequei e fiz o que tu reprovas, de modo que justa é a tua sentença e tens razão em condenar-me.
Sei que sou pecador desde que nasci, sim, desde que me concebeu minha mãe.
Sei que desejas a verdade no íntimo; e no coração me ensinas a sabedoria.
Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e mais branco do que a neve serei.
Faze-me ouvir de novo júbilo e alegria; e os ossos que esmagaste exultarão.
Esconde o rosto dos meus pecados e apaga todas as minhas iniqüidades.
Cria em mim um coração puro, ó Deus, e renova dentro de mim um espírito estável.
Não me expulses da tua presença, nem tires de mim o teu Santo Espírito.
Devolve-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito pronto a obedecer.
Então ensinarei os teus caminhos aos transgressores, para que os pecadores se voltem para ti.
Livra-me da culpa dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação! E a minha língua aclamará à tua justiça.
Ó Senhor, dá palavras aos meus lábios, e a minha boca anunciará o teu louvor.
Não te deleitas em sacrifícios nem te agradas em holocaustos, se não eu os traria.
Os sacrifícios que agradam a Deus são um espírito quebrantado; um coração quebrantado e contrito, ó Deus, não desprezarás."