quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Onde você lê preto, branco eu lia.

A visão de Cristo que abrigas
É da minha visão a maior inimiga:
A tua tem um grande nariz torto como o teu,
A minha tem um nariz arrebitado como o meu...
Ambos lemos a Bíblia noite e dia,
Onde você lê preto, branco eu lia.

William Blake

Cristo é o caminho, a verdade, e a vida.

Ele é o Cavaleiro cujo nome é "a Palavra de Deus".

Não nós.

Será que não temos nos apossado da "imagem" de Cristo e feito uma caricatura da mesma baseada em nossos gostos, costumes e cultura?

E se por um acaso, os nossos gostos, cultura, etc., não forem iguais ao do "irmão x"?

Fica ele sem Cristo?

O meu Cristo é diferente do Cristo do meu vizinho?

Hein?

Como?

Poisé.

Outra pergunta...

O Cristo é seu... ou você é do Cristo?

Nos coloquemos em nossos lugares e reflitamos, sim?

Não tente pintar Cristo.

Deixe que Ele pinte você.

Não tente domar Cristo.

Se coloque sob Seu jugo.

Não tente impor Cristo.

Receba Cristo.

E se você por um acaso, quiser saber quem é Cristo...

Ouça Sua voz.

Deixe que Ele mesmo se apresente.

Não se prenda a retratos e caricaturas de terceiros, quando Ele pode se apresentar pessoalmente a você.

Apocalipse 19:11-13
"E vi o céu aberto, e eis um cavalo branco; e o que estava assentado sobre ele chama-se Fiel e Verdadeiro; e julga e peleja com justiça.

E os seus olhos eram como chama de fogo; e sobre a sua cabeça havia muitos diademas; e tinha um nome escrito, que ninguém sabia senão ele mesmo.

E estava vestido de uma veste salpicada de sangue; e o nome pelo qual se chama é a Palavra de Deus."

Conheça o Cavaleiro do Cavalo Branco em primeira mão.

Vá direto na Palavra de Deus.

Pois de palavras de homens, o mundo está cheio.

E dizem muitas coisas.

Mateus 16:13-14
"Indo Jesus para os lados de Cesaréia de Filipe, perguntou a seus discípulos: Quem diz o povo ser o Filho do Homem? E eles responderam: Uns dizem: João Baptista; outros: Elias; e outros: Jeremias ou algum dos profetas."

E, jamais esqueçamos.

Tudo há de passar e mudar.

Cultura muda.

Opinião muda.

Cenários mudam.

Circunstâncias mudam.

Mas...

Hebreus 13:8
"Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente."

Amém.

Soli Deo Gloria.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Um dia de chuva

Gilded Rain de wasureru
Hoje choveu.

Em diversos momentos, com diferentes intensidades.

Não fui nem pra igreja hoje.

Foi um daqueles dias de ficar aninhado na cama, abraçado com os lençóis e um bom livro.

Por acaso, deu para ler um livro inteiro! O Cordeiro, de Christopher Moore (recomendado apenas para os que saibam examinar tudo e reter o bem).

Assim como a chuva veio em diferentes e diversos momentos, em diferentes e diversos momentos eu parei de ler para ir para as janelas.

Diferentes janelas.

Mas uma experiência foi comum para todos esses momentos...

A gratidão.

Eu não sei se vocês já passaram por isso mas...

Vocês já tiveram esses momentos em que você para, olha para as pequenas coisas, e não consegue evitar de sentir uma certa... reverência por tudo?

A vista da praia.

Uma folha caindo.

O jeito que a brisa acaricia o rosto.

As gotas de chuva escorrendo na janela.

Teias de aranha.

Hoje, eu me encantei com a chuva.

Como eu moro no décimo segundo andar, consigo ver um pouco da trajetória da chuva, de alto a baixo.

É interessante a forma como o vento altera a trajetória das gotas.

Ondas!

No ar!

Lindo.

Hoje, a chuva não era um fenômeno meterológico e científico.

Hoje, a chuva era um mistério.

Um encantador mistério.

E eu sou grato a Deus por esses "pequenos mistérios".

Nós, homens, temos o péssimo hábito de ignorar as coisas. Ou, de não lhes dar o devido valor.

Tudo é normal, tudo é tédio.

As crianças não são assim...

As crianças tratam tudo com reverência... tudo é novo e interessante.

Até as coisas mais "banais".

Quem nunca viu uma criança receber um presente, e antes de sequer olhar para o brinquedo, se encantar com o papel? O papel custou o quê? Alguns centavos?

Mas para a criança, o papel é por vezes, tão interessante quanto o presente em seu interior, que custou dez vezes mais (no mínimo).

A criança não tem tédio. A criança encherga o mistério e a beleza das coisas.

Não sei se isso tem alguma relação ou não com a instrução de que devemos buscar ser como crianças mas...

Eu quero ser como criança.

Eu quero "saborear" cada sensação do vento no meu rosto...

Do cheiro do mar...

Observar as diferentes texturas e cores...

Eu quero me encantar com tudo.

Eu quero ser pequeno e impotente.

Eu não quero olhar pra vida e pensar que sou senhor de alguma coisa...

Quero olhar pra ela e me espantar com a grandiosidade de tudo ao meu redor.

Quero ser pequeno.

Quero a humildade grata da reverência.

Não quero o tédio e as algemas da pretensão humana.

Como o William Wilberforce de Jornada pela Liberdade (Amazing Grace), eu prefiro as teias de aranha do que a política.

Sim, Pai, eu te agradeço por nos dar a criatividade e a capacidade intelectual que nos possibilitam criar algo como a política.

Mas, mais ainda, eu agradeço pelas teias de aranhas. Que Você criou.

Senhor, muito obrigado pela Tua tão grandiosa, diversa e criativa criação. Muito obrigado pela variedade de minerais, plantas, animais, fenômenos climáticos... Muito obrigado por tudo.

Eu te peço Senhor que gere em nós Pai, corações humildes. Corações como de criança, inocentes; que se encantem com toda a beleza da Tua obra.

E obrigado Paizinho, por já ter começado a me mudar. Obrigado Senhor por me possibilitar momentos como esses, de encanto, espanto, gratidão. Obrigado pelo meu novo coração.

Obrigado pelo meu dia de chuva.

(Fica um desafio: Pare. Pode ser numa varanda, numa janela, em baixo de uma árvore... mas pare. Pare e observe as coisas ao seu redor. Tente perceber as coisas que você costuma deixar passar batido. Espero que você ache tanto o encanto que eu pude encontrar, como a gratidão por tudo isso.)

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Jesus ama os atores porno

Tire 10 minutinhos da sua vida para ver e meditar.



"Pois para com Deus não há acepção de pessoas"

Romanos 2:11

O que é:

"A SEXXXCHURCH é um grupo formado por pessoas dispostas a pagar o preço e que estão unidas pelo Corpo de Cristo, pela fé na salvação dos homens. Um grupo com características próprias dirigido à pornografia / prostituição / sexo.

A SEXXXCHURCH foi gerada para trazer consciência, abertura, responsabilidade e recuperação para a igreja, a sociedade e os indivíduos que tenham problemas com a pornografia, além de começar a dar ou buscar soluções, por meios criativos e não condenatórios, mostrando as conseqüências da pornografia e do sexo fora do casamento. Acreditamos que essa é a melhor forma de ação para gerarmos verdadeiros impactos na “geração MTV” - com ações criativas..."

sexxxchurch.com

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Um salto de fé

Admito, sou "fã" de C.S. Lewis, mas nunca li As Crônicas de Nárnia.

Porém, me deparei com um trecho das tais recentemente que me chamou muito a atenção...

Estava lendo a Livaria do Thiago, especificamente o post "Crendo em Deus mesmo não tendo certeza de Sua existência", em que o autor destacava a seguinte fala do Brejeiro ("...um pessimista dos grandes, sempre prevendo as catástrofes mais sangrentas de deixar Quentin Tarantino no chinelo") em "A cadeira de prata":

"Por isso é que prefiro o mundo de brinquedo. Estou do lado de Aslam, mesmo que não haja Aslam. Quero viver como um narniano, mesmo que Nárnia não exista. Assim, agradecendo sensibilizado a sua ceia, se estes dois cavalheiros e a jovem dama estão prontos, estamos de saída para os caminhos da escuridão, onde passaremos nossas vidas procurando o Mundo de Cima. Não que as nossas vidas devam ser muito longas, certo; mas o prejuízo é pequeno se o mundo existente é um lugar tão chato como a senhora diz."

O propósito do post em questão era destacar que sim, a fé é acompanhada de dúvidas.

Chegando até mesmo a afirmar que devemos nos sentir felizes com nossas crises de fé, pois elas podem ser um momento de grande lucidez.

Por acaso, no mesmo dia eu estava lendo sobre Sören Kierkegaard.

Sören Kierkegaard foi um filosofo Dinamarquês que viveu pelos idos de 1800 e que já foi citado anteriormente neste blog, no post "Dor".

Uma das idéias mais famosas de Kierkegaard é "o salto de fé".

Kierkegaard defendia que "o salto" é a forma como agem os apaixonados e os que acreditam em Deus. Segundo ele, fé não é algo que pode ser baseado em evidências ou lógica, assim como não se ama uma pessoa por seu valor; de forma que não há qualquer lógica que possa justificar o comprometimento total tanto da verdadeira fé como do "amor romantico".

Fé, é se comprometer independente de qualquer coisa.

Diante disso, Kierkegaard defendia que sim, a fé é acompanhada da dúvida. Ele cria que uma pessoa que realmente tenha fé em Deus, é a mesma que as vezes passará por dúvidas quanto aos seus credos. A dúvida seria exatamente a parte racional da pessoa que mede as evidências, e sem ela a fé não teria substância.

Alguém que não perceba que a doutrinha Cristã é inerentemente "duvidosa", e que não há uma certeza objetiva com relação às suas verdades não teria fé então; sendo meramente "crédulo".

Não é necessário fé para se acreditar que uma caneta ou uma mesa existam, quando você pode vê-los e tocá-los. Seguindo o raciocínio, ter fé em Deus é saber que você não tem como ter um contato "evidente" com Deus, e ainda assim crer n'Ele.

Só é fé na medida em que você crê e assume um compromisso sem ter qualquer base objetiva para tanto.

A fé então é uma verdade subjetiva com a qual você assume um compromisso pessoal para a sua vida. É você quem confere valor a ela.

Realmente, é semelhante ao amor romantico.

Por essa ótica, as muitas referências à paixão, fogo, primeiro amor, noiva e etc., passam a ter um sentido até, especial, digamos.

Interessante o post do Thiago Bonfim.

Interessante a citação de C.S. Lewis.

Interessante as idéias de Sören Kierkegaard.

Interessante também...

...é a Bíblia.

Combustível para reflexão.

"A fé que tens, tem-na para ti mesmo perante Deus..." (Rm 14:22)

Soli Deo Gloria.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

A chave da liberdade (dos espinhos)


Referência ao post "Espinhos".

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"...Cristo nos libertou de muitas coisas (o aspecto negativo da liberdade). Mas, sempre que pensarmos sobre a liberdade, é importante pensar também no propósito para o qual somos libertos (o aspecto positivo).

Deixe-me agora desenvolver essa tese, de que a verdadeira liberdade é a liberdade para se ser um eu verdadeiro como Deus nos fez e desejou que fôssemos. Comecemos com o próprio Deus. Ele é o único ser que desfruta a perfeita liberdade. Você poderia argumentar que a liberdade de Deus não é perfeita, que ela por certo não é absoluta no sentido de que ele seja livre para fazer absolutamente qualquer coisa. Há algumas coisas que as Escrituras dizem que Deus "não pode" fazer. Ele não pode mentir, não pode pecar, não pode tentar nem ser tentado. Assim, a sua liberdade não é absoluta, mas é perfeita, porque Ele é livre para fazer qualquer coisa que queira. Todas as coisas que Deus não pode fazer dizem respeito à regra geral de que Ele não pode negar ou contradizer a si mesmo (2 Tm 2:13). Ele é sempre e inteiramente Ele mesmo. Não há nada arbitrário, nada mutável, nada impulsivo sobre Deus. Ele é sempre o mesmo. Ele nunca muda. Ele é firme e inabalável. Ele encontra sua liberdade em ser seu verdadeiro eu como Deus. Se contradissesse a Si mesmo, Ele se autodestruiria e deixaria de ser Deus. Mas, ao contrário, Ele continua sendo Ele mesmo e nunca se desvia do seu próprio ser. Como seria o inverso, se Deus por um momento deixasse de ser inteiramente Ele mesmo?

Passemos agora de Deus, o Criador, para todas as criaturas, e descobriremos o mesmo princípio operante. A liberdade absoluta, ilimitada, é uma ilusão, uma impossibilidade. A liberdade de todas as criaturas está limitada por sua própria natureza criada. Tomemos o claro exemplo de um peixe. Deus criou o peixe para viver e crescer no ambiente aquático. Suas guelras são adaptadas para absorver oxigênio da água. Eles encontram a sua liberdade de serem eles mesmos dentro do elemento no qual um peixe encontra sua essência, sua identidade, sua liberdade. Observe que a água impõe uma limitação ao peixe, mas nessa limitação está a liberdade. A sua liberdade é ser ele mesmo dentro dos limites que o Criador lhe impôs. Imaginemos uma daquelas tigelas esféricas para peixes. Suponhamos que um peixinho nade dentro dela de um lado para o outro, até que sinta sua frustração chegar a um ponto insustentável e decida apostar na liberdade saltando do aquário. Se ele conseguisse cair em uma lagoa num jardim, sua liberdade aumentaria. Ele estaria na água, mas haveria muito mais água na qual nadar. Porém, se ele caísse sobre o concreto ou sobre um tapete, sua aposta por liberdade se tornaria em morte. O peixe só pode encontrar a liberdade dentro do elemento para o qual foi criado.

Voltemo-nos agora para os seres humanos. Se os peixes foram feitos para a água, para que foram feitos os seres humanos? Por certo a resposta bíblica é que, se os peixes foram feitos para a água, os seres humanos foram feitos para amar a Deus e o próximo. O amor é o elemento no qual os seres humanos encontram a sua distintiva humanidade. Robert Southwell, poeta católico romano do século 16, escreveu: "Eu vivo, não onde respiro, mas onde amo". Ele estava reproduzindo, de maneira consciente, a declaração de Agostinho de que a alma vive quando ama, não quando existe. Uma existência autenticamente humana é impossível sem amor.

Isso nos leva a um paradoxo surpreendente. Deixe-me declará-lo simplesmente assim: a verdadeira liberdade é a liberdade de ser o meu eu verdadeiro, como Deus me fez e planejou que eu fosse. Mas Deus me fez para amar, e amar é dar, dar de si. Portanto, para que eu seja eu mesmo, tenho de negar-me a mim mesmo e dar de mim em amor a Deus e aos outros. A fim de ser livre, tenho de servir. A fim de viver, tenho de morrer para a minha própria autocentralidade. A fim de me encontrar, tenho de perder a mim mesmo no amor. Li certa vez que Michelangelo expressou esse conceito maravilhosamente nestas palavras: "Quando sou teu, então, por fim, sou completamente eu mesmo". Não sou eu mesmo até que seja teu (de Deus e dos outros).

Assim, a liberdade é exatamente o oposto do qua a maioria das pessoas pensa que ela seja. Lembro-me de um estudante finlandês da Universidade de Helsinki que me disse: "Tão somente se eu estivesse livre de responsabilidade para com Deus e para com as outrs pessoas, eu poderia viver para mim mesmo. Então eu seria livre". Mas a verdadeira liberdade é o oposto. É a libertação de uma preocupação com o meu pequeno eu, tolo, a fim de ser livre para amar a Deus e ao meu próximo.

O próprio Jesus ensinou esse paradoxo fundamental da liberdade. Ele disse: "quem quiser salvar a sua vida, a perderá; mas quem perder a sua vida por minha causa e pelo evangelho, a salvará" (Mc 8:35).

Eu costumava pensar que Ele estivesse se referindo a mártires e ao fato de se perder ou ganhar, literal e fisicamente, a vida; mas o substantivo grego traduzido como "vida" é psyche, que em muitos contextos é melhor traduzido por "eu". Ou pode significar "você mesmo". Uma tradução moderna poderia ser:

Se você insistir em agarrar-se a si mesmo e viver para si mesmo, e recusar-se a deixar que o seu ego se vá, você se perderá. Mas, se você estiver preparado para se perder, para dar-se a si mesmo por amor a Deus e aos seus semelhantes, então, nesse momento de completo abandono, quando você pensar que perdeu todas as coisas, o milagre acontecerá e você encontrará a si mesmo.


Cristo é a chave para a liberdade, e essa é a quinta razão por que sou Cristão."

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Religião e Alucinação - Ricardo Gondim (e Mafalda?)

Arte retirada de: Diversitá - Esperando da Vida

"Tenho muita pena dos crédulos. Chego a chorar por mulheres e homens ingênuos; os de semblante triste que lotam as magníficas catedrais, na espera de promessas que nunca se cumprirão. Estou consciente de que não teria sucesso se tentasse alertá-los da armadilha que caíram. A grande maioria inconscientemente repete a lógica sinistra do, “me engana que eu gosto”.

Se pudesse, eu diria a todos que não existe o mundo protegido dos sermões. Só no “País da Alice” é possível viver sem perigo de acidentes, sem possibilidade da frustração, sem contingência e sem risco.

Se pudesse, eu diria que não é verdade que “tudo vai dar certo”. Para muitos (cristãos, inclusive) a vida não “deu certo”. Alguns sucumbiram em campos de concentração, outros nunca saíram da miséria. Mulheres viram seus maridos agonizarem sob tortura. Pais sofreram em cemitérios com a partida prematura dos filhos. Se pudesse, advertiria os simples de que vários filhos de Deus morreram sem nunca ver a promessa se cumprir.

Se pudesse, eu diria que só nos delírios messiânicos dos falsos sacerdotes acontecem milagres aos borbotões. A regularidade da vida requer realismo. Os tetraplégicos vão ter que esperar pelos milagres da medicina - quem sabe, um dia, os experimentos com células tronco consigam regenerar os tecidos nervosos que se partiram. Crianças com Síndrome de Down merecem ser amadas sem a pressão de “terem que ser curadas”. Os amputados não devem esperar que os membros cresçam de volta, mas que a cibernética invente próteses mais eficientes.

Se pudesse, eu diria que só os oportunistas menos escrupulosos prometem riqueza em nome de Deus. Em um país que remunera o capital acima do trabalho, os torneiros mecânicos, os motoristas, os cozinheiros, as enfermeiras, os pedreiros, as professoras, vão ter dificuldade para pagar as despesas básicas da família. Mente quem reduz a religião a um processo mágico que garante ascensão social.

Se pudesse, eu diria que nem tudo tem um propósito. Denunciaria a morte de bebês na Unidade de Terapia Intensiva do hospital público como pecado; portanto, contrária à vontade de Deus. Não permitiria que os teólogos creditassem na conta da Providência o rio que virou esgoto, a floresta incendiada e as favelas que se acumulam na periferia das grandes cidades. Jamais deixaria que se tentasse explicar o acidente automobilístico causado pelo bêbado como uma “vontade permissiva de Deus”.

Se pudesse, eu pediria as pessoas que tentassem viver uma espiritualidade menos alucinatória e mais “pé no chão”. Diria: não adianta querer dourar o mundo com desejos utópicos. Assim como o etíope não muda a cor da pele, não se altera a realidade fechando os olhos e aguardando um paraíso de delícias.

Estou consciente de que não serei ouvido pela grande maioria. Resta-me continuar escrevendo, falando… Pode ser que uns poucos prestem atenção.

Soli Deo Gloria."

Religião e Alucinação - Ricardo Gondim

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Espinhos

Thorns III de moijra

Faço parte de um estudo bíblico sobre a liderança de Jesus baseado no Evangelho de Marcos. Tem sido muito proveitoso.

Recentemente, começamos a estudar as parábolas, e a do semeador em especial me chamou a atenção.

Marcos 4:1-9
"E outra vez começou a ensinar junto do mar, e ajuntou-se a ele grande multidão, de sorte que ele entrou e assentou-se num barco, sobre o mar; e toda a multidão estava em terra junto do mar.

E ensinava-lhes muitas coisas por parábolas, e lhes dizia na sua doutrina:


Ouvi: Eis que saiu o semeador a semear. E aconteceu que semeando ele, uma parte da semente caiu junto do caminho, e vieram as aves do céu, e a comeram; e outra caiu sobre pedregais, onde não havia muita terra, e nasceu logo, porque não tinha terra profunda; mas, saindo o sol, queimou-se; e, porque não tinha raiz, secou-se. E outra caiu entre espinhos e, crescendo os espinhos, a sufocaram e não deu fruto. E outra caiu em boa terra e deu fruto, que vingou e cresceu; e um produziu trinta, outro sessenta, e outro cem.

E disse-lhes: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça."

Dentre as pessoas expostas no "conto", poderíamos nos ater no frutífero, o da "boa terra", mas, a que mais me chama a atenção é a pessoa anterior a esta.

A que nasce, cresce, mas antes que frutifique, é sufocada por espinhos.

Jesus, depois, explica a parábola, e a pessoa em questão, da seguinte forma:

Marcos 4:18-19
"E outros são os que recebem a semente entre espinhos, os quais ouvem a palavra; mas os cuidados deste mundo, e os enganos das riquezas e as ambições de outras coisas, entrando, sufocam a palavra, e fica infrutífera."

Acho que a maioria dos "cristãos" se encaixam nesse caso. Ou ao menos, os "cristãos nominais".

Saindo da parábola para um exemplo mais prático, como seria essa pessoa?

Você talvez. O seu vizinho. Aquele seu amigo da Escola Bíblica Dominical.

Mas vamos a um exemplo mais "bíblico"...

Eclesiastes 2:4-11
"Fiz para mim obras magníficas; edifiquei para mim casas; plantei para mim vinhas.
Fiz para mim hortas e jardins, e plantei neles árvores de toda a espécie de fruto.
Fiz para mim tanques de águas, para regar com eles o bosque em que reverdeciam as árvores.

Adquiri servos e servas, e tive servos nascidos em casa; também tive grandes possessões de gados e ovelhas, mais do que todos os que houve antes de mim em Jerusalém.
Amontoei também para mim prata e ouro, e tesouros dos reis e das províncias; provi-me de cantores e cantoras, e das delícias dos filhos dos homens; e de instrumentos de música de toda a espécie.

E fui engrandecido, e aumentei mais do que todos os que houve antes de mim em Jerusalém; perseverou também comigo a minha sabedoria.
E tudo quanto desejaram os meus olhos não lhes neguei, nem privei o meu coração de alegria alguma; mas o meu coração se alegrou por todo o meu trabalho, e esta foi a minha porção de todo o meu trabalho. E olhei eu para todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também para o trabalho que eu, trabalhando, tinha feito, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito, e que proveito nenhum havia debaixo do sol."

Assume-se que o livro de Eclesiastes tenha sido escrito por Salomão, mas, seja lá quem o tiver escrito, podemos observar que esse indivíduo, como o nosso conhecido da parábola, buscou "os cuidados deste mundo", foi rico e ambicioso...

Teve terras, mulheres, servos, bebida, riqueza. Pode-se dizer que era uma hedonista praticamente.

Tudo que todo mundo quer, não?

Mas, após obter tudo isso, o que encontramos é alguém "insatisfeito", que no fim, julga que de tudo isso "não há proveito algum debaixo do sol".

Interessante.

Me lembra casos diversos de pessoas que tiverem todo o sucesso do mundo, como jogadores de futebol, atores, e empresários; que talvez não tenham tido a mesma percepção do escritor de eclesiastes, mas com certeza se depararam com a mesma insatisfação (como podemos observar pela vida que levam).

Ou, até mesmo, o pai de família de classe média, com 2 filhos, carro novo a cada 2 anos, e uma linda esposa; que por algum motivo, é tão insatisfeito quanto os de cima, e então se aventura em casos extraconjugais, etc etc.

Pessoas assim, lutam por tudo que "seus olhos desejam" (e algumas conseguem), e não costumam negar os desejos e anseios de seus "corações".

Mas sempre continua faltando algo. Nada satisfaz.

Ao meu ver, o que acontece é que...

Todas essas coisas são passageiras, nenhuma delas satisfaz "de fato", e, pra piorar, elas ainda "aprisionam".

São os espinhos que sufocam.

São as correntes que prendem.

São as mentiras que enganam.

Não há nem liberdade real nem satisfação real em tais coisas.

Mas então, onde é que achamos isso?

João 8:32
"E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará."

Ainda no livro de João, no verso 38 do capítulo 18, Pilatos se faz a mesma pergunta que muitos de nós fazemos dia após dia...

"Que é a verdade?"

Qual é a verdade? O que realmente importa? Qual o sentido da vida? O que é que eu devo fazer com a minha vida?

Jesus já havia respondido essa pergunta.

"Eu sou o caminho, a verdade, e a vida" (Jo 14:6)

Ele é a resposta.

A Palavra nos ensina que somente agindo como um corpo, cuja cabeça é Cristo é que atingimos "a estatura de varão perfeito". (Ef 4:11-16)

A mesma Palavra, nos ensina que somos como "peregrinos em terra estranha", não somos daqui (Jo 17:14), e que tudo "dessa terra" é corruptível e passageiro...

Mateus 6:19
"Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam"

E não é?

O escritor de Eclesiastes percebeu isso. Ele percebeu que no fim, ele ia morrer igual aos outros. E que suas posses iam passar adiante pra outra pessoa, que talvez nem as merecesse. Ele percebeu que tudo era cansativo e que no fim nada "valia a pena", era tudo "correr atrás de vento".

E ficou cansado. Desiludido.

Assim como os nossos amigos "estrelas" ou "pais de família", que vivem insatisfeitos, cansados, gerando todo um mercado para psicólogos e livros de auto-ajuda.

Mas a resposta é...

Mateus 11:29-29
"Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas."

Só Ele pode dar descanso às nossas almas. Só Ele nos ensina a "viver".

Somente quando nos colocamos sob o Seu jugo; quando colocamos nossas vidas "no centro de Sua vontade" é que achamos descanso.

No evangelho de João, capítulo 4, encontramos o caso de uma mulher samaritana, que não somente lutava para saciar sua sede natural indo ao poço dia após dia, como também sua sede emocional. Essa mulher já tivera 5 maridos e não conseguia "parar quieta".

Jesus afirma para essa mulher, que estava ali no poço, que "qualquer que beber desta água tornará a ter sede; mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna." (Jo 4:13-14)

Só por meio d'Ele que podemos realmente nos satisfazer. Sob o jugo d'Ele.

Lucas 9:23-25
"E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me. Porque, qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvará. Porque, que aproveita ao homem ganhar o mundo todo, perdendo-se ou prejudicando-se a si mesmo?"

Esse é o convite que Ele faz.

Tomar a sua cruz e o seguir.

Andar, como Ele andou. (1 Jo 2:6)

Morrer, como Ele morreu. (Rm 6:4)

Para vivermos eternamente, como Ele vive. (Rm 6:8)

Se vivermos para nos saciar, preocupados com as coisas deste mundo, tendo como "razão de ser" o nosso próprio "eu"; nosso fim será não somente a morte, mas uma vida vazia, sempre incompleta.

Sempre insastisfeitos. Sempre com sede.

Mas, a partir do momento que vivermos não mais para nós, mas para Ele; que morrermos para esse mundo, e nascermos denovo, numa vida de imitação a Cristo por amor...

Teremos ganho tudo.

Mateus 6:25-33
"Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário?

Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?

E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura? E, quanto ao vestuário, por que andais solícitos?

Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam; e eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe, e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé?


Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos? (Porque todas estas coisas os gentios procuram). De certo vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas; mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas."


Não deixemos os espinhos (as coisas deste mundo) sufocarem as nossas vidas. Coloquemos Deus em primeiro lugar; demos a Ele o espaço para fazer Sua obra em nossas vidas. Só assim teremos vidas plenamente frutíferas.

Meditemos nisso.

Soli Deo Gloria.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Sobre luzes, espelhos e defeitos (ou, "quem será que está errado mesmo?")


"...Depois, numa hora de quietude, um estranho pensamento me ocorreu feito um raio. De repente me entrara na cabeça outra explicação. Suponhamos que ouvíssemos muita gente fazendo menções a um desconhecido. Suponhamos que ficássemos intrigados por ouvir alguns dizendo que ele era alto demais; outros, baixo demais. Alguns faziam objeções à sua obesidade; outros, lamentavam sua magreza. Alguns o achavam escuro demais; outros, louro demais.


Uma explicação (como já se admitiu) seria que ele fosse uma figura estranha. Mas há outra explicação. Ele poderia ser a figura certa. Homens exageradamente altos poderiam achá-lo baixo. Homens demasiado baixos poderiam achá-lo alto. Velhos machões a caminho da corpulência poderiam considerá-lo fisicamente mal fornido; velhos janotas a caminha da fraqueza poderiam sentir que ele se encorpara excedendo as linhas minuciosas da elegância. Talvez os suecos (que têm o cabelo amarelo como uma espiga de milho) o chamassem de pardo, ao passo que os negros o consideravam distintamente louro.

Talvez, em suma, essa coisa extraordinária seja realmente a coisa ordinária; pelo menos a coisa normal, o centro. Talvez, no fim das contas, o cristianismo fosse sadio e todos os seus críticos fossem loucos - de maneiras variadas.

Eu testei essa idéia perguntando-me se havia nalgum dos acusadores algo mórbido que pudesse explicar a acusação. Fiquei chocado ao descobrir que essa chave se encaixava na fechadura. Por exemplo, era certamente estranho que o mundo moderno acusasse o cristianismo simultaneamente de austeridade física e de pompa artística. Mas era também estranho, muito estranho, que o próprio mundo moderno combinasse um luxo físico extremo com uma extrema ausência de pompa artística.

(...)

Examinei todos os casos e vi que a chave se encaixava. O fato de Swinburne ter-se irritado com a infelicidade dos cristãos e depois mais ainda com a felicidade deles era fácil de explicar. Já não se tratava de uma complicação de enfermidades do cristianismo, mas de uma complicação de enfermidades de Swinburne. As limitações dos cristãos o aborreciam simplesmente porque ele era mais hedonista do que alguém sadio deveria ser. A fé cristã o aborrecia porque ele era mais pessimista do que alguém sadio deveria ser. Da mesma maneira os malthusianos atacavam por instinto o cristianismo, não porque haja nele algo de antimalthusiano, mas porque há algo de anti-humano no malthusianismo."


Para refletir:

João 3: 16-21
"Pois assim amou Deus ao mundo, que deu seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele.

Quem nele crê, não é julgado; o que não crê, já está julgado, porque não crê no nome do Filho unigênito de Deus. O juízo é este, que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; pois eram más as suas obras. Porquanto todo aquele que pratica o mal, aborrece a luz, e não vem para a luz, a fim de que as suas obras não sejam argüidas; mas aquele que faz o bem, chega-se para a luz, a fim de que sejam manifestas as suas obras, que têm sido feitas em Deus."

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Algernon Charles Swinburne | 05/04/1837 - 10/04/1909 :

Foi um poeta inglês do período Vitoriano. Sua poesia foi muito controversa para o seu tempo, tendo temas reocorrentes de sado-masoquismo, desejo de morte, lesbianismo, e uma postura anti religiosa.

Considerado um "poeta decadente", diz-se que ele falava mais do que fazia, como atesta Oscar Wilde, que disse que Swinburne era "um amostrado em termos de vícios, que fez tudo que podia para convencer os outros de sua homossexualidade e bestialidade sem ser nem um pouco homossexual ou bestial".

Thomas Robert Malthus | 13/02/1766 - 23/12/1834 :

Economista político inglês, famoso por suas pessimistas teorias de crescimento populacional.

Encontrou alguns de seus mais fortes críticos no movimento Marxista. Engels dizia que o pensamento malthusiano era "a mais crua e bárbara teoria já criada, um sistema de desespero que ataca todas as belas frases sobre o amor ao próximo e a cidadania mundial".

Lenin também o criticou, afirmando que se tratava de "uma doutrina reacionária" e "uma tentativa por parte dos ideologistas burgueses de exonerar o capitalismo e provar a inevitabilidade da pobreza e miséria da classe operária em qualquer sistema econômico".

Gilbert Keith Chesterton | 29/05/1874 - 14/06/1936 :

Foi um influente escritor inglês do começo do século 20. Suas obras diversas abrangem o jornalismo, filosofia, poesia, biografias, apologética Cristã, fantasy e histórias de detetive.

Sua obra, de grande impacto, colaborou para a conversão de C.S. Lewis ao Cristianismo, e influenciou escritores diversos como Ernest Hemingway, Graham Greene, Harold Bloom, Frederick Buechner, Evelyn Waugh, Jorge Luis Borges, Gabriel García Márquez, Karel Čapek, David Dark, Paul Claudel, Dorothy L. Sayers, Agatha Christie, Andrew Greeley, Sigrid Undset, Ronald Knox, Kingsley Amis, W. H. Auden, Anthony Burgess, E. F. Schumacher, Orson Welles, Dorothy Day, Gene Wolfe, Tim Powers, Garry Wills, David D. Friedman, Neil Gaiman e Franz Kafka.

O renomado autor cristão Philip Yancey, afirmou que se pudesse ter apenas um livro além da Bíblia, poderia muito bem ser Ortodoxia, de G. K. Chesterton.

O livro "Good Omens" dos populares escritores de fantasia Neil Gaiman (Sandman) e Terry Pratchett (Discworld) é "dedicado à memória de G. K. Chesterton: Um homem que sabia das coisas".